alicerce

terça-feira, 1 de março de 2011

clock1- III

***
Faltam cinco minutos para as dez e estou completamente sem vontade para ir para as aulas. A verdade é que já devo ter falta a matemática, mas nada que a minha mãe não resolva.
Ganhei vontade e decidi levantar-me. Com a mão direita, (já que a esquerda estava cheia de ligaduras) retirei a primeira camisola e as primeiras calças que se cruzaram no meu olhar. E que sorte que tive, até combinavam. Coloquei o meu lenço castanho, calcei as botas, vesti o blusão e dirigi-me para a paragem.
Deparei-me com um homem, que estava completamente fora de si. Não se segurava em pé e reparei que estava bastante exaltado pelo modo como reagia com umas crianças que estavam a saltar às cordas. Pensei em ligar para o 112. Mas por pouco tempo. O homem aproximava-se e mais do que o bem dele, queria o meu. Quando estava a passar ao meu lado, parou.
Sentou-se no banco que estava praticamente a um metro de mim e ficou a olhar-me, pasmado por sinal. Parecia-me mais calmo e confesso que tive medo do que ele me pudesse fazer. Quando cheguei à paragem, ele continuava a olhar-me. Sentia-me muito observada. Não gostava do sentimento que esse olhar incumbia em mim. Felizmente o autocarro chegou. Estiquei o braço (direito), piquei a senha e sentei-me ao lado do Diogo.
Estava vestido de preto, como sempre. E as suas botas quase até ao joelho estavam todas sujas de terra. Não resisti em perguntar.
-Onde é que te sujaste Diogo? - disse com a mão a tapar-me a boca, na esperança de não parecer intrometida.  
-Não é da tua conta Carol, mete-te na tua vida! – exclamou olhando-me com um olhar tão revoltado que quase parecia que lhe tinha perguntado quantas vezes toma banho por semana, ou eu sei lá.
- Tudo bem. Desculpa se me meti na tua vida. Mas não é natural, ninguém, a esta hora da manhã estar assim. Desculpa.
Ele revirou os olhos e suspirou.
Não sei o que se passa com ele, sempre fomos tão amigos. Desde que ele começou a andar com os Guedes nunca mais foi o mesmo. Começou a vestir-se como eles. Acho que não lhes posso chamar de góticos já que usam azul, verde e assim mas a verdade é que ambos transmitem um olhar frio e constrangedor.
 Andam sempre com os headphones e músicas que mais parecem pratos a estatelarem-se no chão! Não sei o que vêm naquilo. Mas pior de tudo, é mesmo os colares que usam. Parecem coleiras de cães, acho que se um dia vir a Joana, a irmã mais velha do Diogo, vou falar com ela. Já que ele não me ouve, pode ser que a ela oiça... 

2 comentários :