alicerce

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

clock1- II


***
Sinto-me completamente noutro mundo. Apetece-me gritar. Esta dor, esta dor. Estes ponteiros, estes segundos. Estou a dar em maluca.
Levantei-me como podia, agarrando-me às paredes com o único braço que se encontrava disponível. Quando passado alguns segundos, cheguei ao meu destino, sentei-me no chão com esperança que alguma alma caridosa me pudesse ajudar. O meu braço já sangrava e não sabia o que fazer para estancá-lo. A abertura era tão grande que podia jurar que coubessem lá dois dedos. Começo a ouvir passos e tento levantar-me, mas acabo por cair tantas vezes que desisto.
De súbito aparece a minha mãe, que entra em estado de pânico quando me vê sentada, enquanto lhe tento esconder o braço e exerço um sorriso forçado.
- O que é que tens aí? – pergunta-me sentando-se ao meu lado, levantando-me  o braço até que este se tornasse visível.
-N…nada – uso um sorriso forçado que não transparece de todo a minha alma
- Nada Carolina? O que é que fizeste ao braço? – ela perde a paciência e recorre ao seu olhar maléfico.
Nem me dei ao trabalho de responder, sabia perfeitamente o quão absurdo seria tentar explicar-lhe que bati com o braço na cómoda. Levou-me para o quarto e desapareceu. Decidi tentar adormecer, apesar de saber que não faltava muito tempo para, mais uma vez ser invadida. Oiço novamente o som do meu relógio. Já eram quatro da manhã e o sino tocou as quatro vezes. Cada som emitido soou-me a quatro, estava completamente tonta e cheia de dores.
O sangue parecia não acabar e a minha mãe estava já à meia hora a curar-me o braço. Devia pensar que estava no hospital!
Se eu quisesse estar tanto tempo a ser curada, ia para o hospital e fingia-me de coitadinha! Não a aguento mesmo. Trabalha dez horas por dia, chega a casa às tantas e ainda por cima tem a decência de reclamar comigo! (era mesmo o que faltava)
Finalmente foi-se embora. Estava a ver que não.
O pior mesmo é que estou com o braço todo inchado e ligado até aos cotovelos. Só espero amanhã poder tirar as ligaduras, causam comichão.
Quero dormir, estou exausta. Mas o relógio não me deixa, outra vez...

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