alicerce

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

clock1- I


Estou farta deste silêncio constrangedor, desta harmonia repetitiva. O relógio insiste em não se calar e os segundos em continuar. Oiço um a um como se fosse o último mas a minha mente paira longe, talvez já quase no deserto.
Vejo imagens sobrevoarem a minha mente, mostrando-me realidades que não quero lembrar. As minhas mãos cruzam-se tentando aquecer-se. Os meus joelhos envolvem-se e a minha cabeça baixa-se. Tento cerrar os olhos. E de súbito já sentia o meu coração a arder, despedaçando-se aos poucos.
Posso tentar erguer-me, parar o tempo. Parece que os ponteiros do relógio se fazem ouvir, cada vez com mais intensidade e que os segundos estão a voar cada vez mais depressa. Consegui levantar-me mas acabei por me desequilibrar e bater com o braço na ponta da cómoda.  O silêncio mantém-se inquebrável apesar de gemer de dores ao tentar dobrar o braço. O som dos ponteiros está cada vez mais forte. Isto está a dar cabo de mim...

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