alicerce

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

o que tiver de acontecer, acontecerá


Parece que a tua ida me fez pensar em tudo que perdi e tudo que conquistei. Tento reagir como se nada fosse, como se o mundo continuasse o mesmo mas tu sabes que não continua. Já nem a mobília da casa é a mesma, vê bem. Mas sabes, eu fiquei no teu cantinho. Não, eu não fiquei com o teu cantinho, eu fiquei apenas a usufruir um pouco mais dele. Ao inicio, mal conseguia entrar, mas agora, agora tudo está mais suave e parece que os meus passos são menos trémulos.
                É triste pensar que já foste, é triste saber que o teu fim realmente chegou. Mas parece que ainda te sinto aqui. Hoje, estava eu deitada no sofá a ver televisão como o habitual e mesmo sem eu ter pedido, ouvi-te tossir. Na verdade eu sei que não eras tu mas fez-me relembrar os tempos em que eu te ouvia e ficava perplexa sem saber o que fazer. E lembraste no dia em que fui eu a tentar ajudar-te? A única coisa que soube fazer foi revelar uma expressão de desespero, levar as mãos ao peito e ficar a olhar-te como se tudo fosse natural. Sim é verdade, não fui corajosa o suficiente para te dar duas pancadas nas costas. Mas até isso eu tinha medo de fazer. Tinha medo de te aleijar ao tentar ajudar, tinha medo de tudo o que pudesse acontecer e de tudo o que não pudesse também.
                Fazes-me pensar na vida de um modo diferente e eu sei que agora dou ainda mais valor a tudo o que tenho. Espero que estejas orgulhoso de mim, sabes, é tudo o que eu mais quero. Depois de pressentir a tua presença, comecei a pensar no futuro. Naquilo que me acontecerá. Será que ficarei como tu, doente mas no entanto feliz e com uma família ao teu lado que faria tudo por ti? Ou será que apenas serei eu, gasta da idade e infeliz? Eu acredito que existe sempre alguém que possa ajudar, mas será que comigo vai ser igual? Enfim, perguntas sem resposta. Mas tu fazes com que me depare com essas perguntas. E até é bom para mim.
                Não sei se tens reparado, mas à uns anos que tudo mudou. Tornei-me mais mulherzinha e se antes pensava muito nos outros, agora é em demasia. Se calhar vou ser como tu. Vou sofrer para aprender. Mas que assim seja. Eu não tenho medo da vida, a vida é que tem medo de mim. O que tiver de acontecer, acontecerá e pronto. 

2 comentários :

  1. Ola linda!
    Não me vou alongar muito. Dou-te os meus parabéns pela espectacular capacidade de escrita que tens, aproveita estes teus dotes. Escreve, porque ao escreveres desabafas as tuas angústias e as tuas alegrias. Este texto descreve exactamente isso. E no fundo, acredito que o teu avô está lá em cima a olhar para ti, a ver-te escrever, e a sorrir com aquele seu sorriso que era típico dele e cheio de orgulho por ter uma neta como tu. Ele estará sempre do teu lado, a dar-te apoio e a proteger-te.
    Beijinhos
    Cláudia Flor

    ResponderEliminar
  2. oh, obrigada Cláudia. Sim, claro que vou continuar. Eu adoro escrever, mesmo !
    eu acredito que ele esteja a olhar por mim *-*
    Beijinhos

    ResponderEliminar