alicerce

terça-feira, 21 de junho de 2011

abraça-me

Estou a morrer, estou a morrer por dentro e por fora. Nunca pensei que o teu corpo e a tua alma albergassem tanto em mim. Quando eu era pequena, lembro-me da primeira vez que fizeste questão em ires-te embora. Em ires trabalhar. Foste para a Inglaterra. Eu não sabia bem o que se estava a passar e sorria naturalmente. Mas quando chegou o dia de ires, eu percebi que as malas já estavam prontas e que a tua presença iria faltar. Desde então o nosso primeiro e último cumprimento foi sempre um abraço, dos melhores que recebo ao longo dos anos, sem dúvida.
Era ingénua e muito pequena e quando senti a ausência do teu corpo a vaguear por uma casa, por um lar destruído, decidi esconder-me atrás daquela mesa vulgar que suporta o peso da televisão. Para mim, o isolamento era perfeito. Já que a mãe fazia questão em ter-me por perto, talvez para me tentar proteger. As minhas lágrimas já não tinham fim e o meu olhar parecia apagar-se aos poucos.
Lembro-me também de todas as vezes em que chegaste de madrugada, mas nunca, nunca te esqueceste de vir à minha cama abraçar-me. Por mais cheiro a tabaco que transportasses, por mais cansaço que sentisses, eu fui sempre a primeira pessoa que pôde sentir a tua presença aqui.
É claro que o que pesa mais são os maus momentos, mas se queres saber, estou a conseguir ultrapassá-los com facilidade. Já não me fazem confusão, são apenas recordações que creio não esquecer.
Os anos foram passando e as saudades foram diminuindo, por mais estranho que pareça, já me habituei que assim fosse. Mas és o meu sangue, parte da minha vida.
Sabes quando é que as saudades apertam mesmo? Quando tenho de me ver ao espelho e deparar-me com a cor dos meus olhos, os traços do meu rosto e partes do meu corpo que são baseadas em ti.
Já não suporto ver-te apenas uma vez por ano, fazes-me falta, mais do que nunca. Quero que o dia dezassete chegue rápido. Quero ver novamente a lua no céu, quero estar preparada para dormir e embalar-me novamente nos teus braços. Esperando que à diferença da primeira vez, a minha cara não se torne húmida pelas lágrimas.

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