alicerce

domingo, 10 de abril de 2011

Joana

Lisboa  
                                                                                                                                            
Querida Marta,
Já há algum tempo que estou para te escrever. Talvez o medo seja maior do que a vontade ou talvez sinta que não precise mais de te transmitir, tudo aquilo que estás realmente farta de ver. Estou no hospital e agora entendo tudo o que passaste melhor do que nunca.
Encontrei-me com a Rita e ela trouxe-me mais duas doses. A minha intenção era guardar a segunda dose, para quando achasse necessário. A Rita convenceu-me a tomar a segunda e vim parar aqui. Tenho a certeza que ela não queria que eu viesse parar aqui, disse apenas que a sensação era mais reconfortante a dobrar.
O meu pai acordou para a vida e, agora que estou internada lembrou-se que ainda tinha uma filha. Talvez seja tarde demais, onde estava ele quando comecei com isto? Passa as noites todas comigo e o mais estranho é mesmo que deixou o trabalho por mim. Pela primeira vez trouxe-me um ramo de rosas. Talvez já tenha percebido que para mim, o tempo parou. Não haverá relógio que fará o tempo voltar atrás.
O Pré-Histórico também me tem vindo a surpreender cada vez mais, depois das aulas vem visitar-me e ficamos os dois a falar sobre o Lucas e sobre a nova escola dele. Vê lá, já se adaptou à turma. Sinceramente nem sei como, com aquele mau feitio.
A minha mãe diz que não sabe como me tornei nesta Joana. Pensa que falhou e chora sempre que vem ver-me. Não sei o que lhe dizer para a tirar desta situação.
Os médicos receiam que o meu corpo não aguente os tratamentos mas também já não me importo. Sei que se não aguentar vou ter contigo e com a avó.
Sinto-me fraca, sinto que a minha cabeça pesa quinze quilos e não aguento mais. O Pré-Histórico acabou de chegar, vou falar um pouco com ele e talvez mais tarde execute mais uma sessão deste maldito tratamento.
Até já, um beijo,
Joana. 

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