alicerce

sábado, 26 de março de 2011

Entre quatro paredes (cap1- a partida)

Esta noite sonhei que pela primeira vez, a minha irmã não chorou durante um dia inteiro. Os meus pais passaram o fim-de-semana fora e eu fiquei a tomar conta dela. Fomos à praia e ao parque e pela primeira vez, pude sentir um sorriso verdadeiro projectado pelo rosto dela.
Mas tudo não passou de um sonho e acordei, novamente com os choros dela. Levantei-me e fui acalmá-la. A minha princesinha já tem 5 anos e está cada vez mais linda. Não aguento vê-la assim, sempre a chorar por causa dos meus pais. Estou a precisar de descanso, estou a precisar de passar uns dias fora, para aliviar esta dor que me percorre o peito. Vou ligar à Marta.
-Marta?
- Rita! Como é que estás? Há muito tempo que já não falávamos, como é que vão as coisas por aí?
-Iguais prima. Os meus pais não param de discutir e o que mais me irrita não é eles me abalarem. A carolina está sempre a chorar, tenho medo que isto lhe cause algum trauma.
-Hum, estou a ver… queres vir passar este fim-de-semana aqui à aldeia?
-Por mim vou, só não sei se eles me deixam.
- Eu falo com eles e vais ver que vêm.
Passei o telefone à minha mãe e ela concordou. Acho que a Marta lhe disse que precisava da minha ajuda e pediu para a Carol também ir. Vou já hoje à noite, não os aturo mais.
Preparei a minha mala e a da minha irmã. Por volta das oito e meia, os meus tios deverão estar aqui. Infelizmente, ainda são sete.
O meu pai acabou de chegar, o sossego da tarde vai terminar.
Começou a reclamar com a minha mãe porque o jantar ia ser peixe. Sinceramente. Se fosse comigo, já tinha saído de casa, não sei como a minha mãe aguenta isto tudo. Fez-lhe a vontade, o jantar vai ser picanha. Tal e qual ontem. Tem de ser sempre tudo como o menino quer. Qualquer dia perco a cabeça e saio da casa com a minha irmã. Afinal, já tenho 17, quando fizer 18, isto não continuará assim.
Os meus tios chegaram. O tio António continua o mesmo, pacato e ingénuo e pensa que a minha família é perfeita.
-Ó amor, tens a certeza que não vais ter saudade dos teus paizinhos?
-Tio, sinceramente, acho que mais depressa sentiria saudades da minha escola.
Ele não se atreveu a citar nem mais uma sílaba e apercebeu-se de que o ambiente em casa estava um pouco pesado, para o habitual. Sim, porque o habitual para ele seria pelo menos um sorriso da parte da minha mãe. É claro que sempre foi forçado, mas ele nunca conheceu o verdadeiro.
Já a minha tia, sempre soube o que os meus pais foram. Não se atreve a sorrir para eles. Sabe o sofrimento que causam em mim e na Carolina e não suporta isso. Já me chegou a pedir que fosse viver com ela, mas rejeitei. Amo demasiado a minha mãe para a deixar só. Tenho medo do que o meu pai lhe faça na nossa ausência.
Mal entrou pela porta, a tia Cristina deu-me um abraço e um beijo enorme. É das únicas pessoas que, hoje em dia ainda me dá abraços e beijos com tanto carinho. Tenho pena que ela sofra ao ver-me assim, não merece…
Finalmente chegamos à aldeia, acho que adormeci pelo caminho e a Carol também. O seu ressonar é como o de uma princesa. Ela não merece tudo isto. 

7 comentários :