alicerce

segunda-feira, 28 de março de 2011

Entre quatro paredes (cap4- O rio)



Naquele momento não me apetecia de todo, lembrar-me da noite maravilhosa que tinha passado. Aqueles minutos foram importantíssimos. Mas no decorrer da noite fez-me pensar, como se um sonho pudesse ser realidade. Sim, é absurdo ele ser um psicopata bem como um serial killer, mas há algo naquele sonho que me está a fazer reflectir imenso.

Mas o que diria aquele bilhete? Bom, não aguentei mais. Tive que agarrar no papel e ler.
Liga-me por favor … ,Gaspar.
Percorri o quarto com um olhar e lá estava ele. O telemóvel estava pousado em cima da cómoda, junto do mini espelho. Hesitei. Durante esses segundos a minha imagem foi invadida pelo olhar inocente e pelos lábios carnudos. Tive medo, tive medo que aquele sentimento estranho voltasse a invadir-me e que não soubesse como soltar-me dele. Parecia que me sufocavam e que não conseguia falar. As palavras saiam sempre umas em cima das outras e as minhas mãos, tremiam, tal e qual o coração.
 Mesmo sabendo qual seria a minha reacção, preferi arriscar. Ouvir a voz dele valia a pena.
-Rita? És tu?
-Sou, só li agora o bilhete. Porque é que querias que te ligasse?
-Queria ter a certeza de que a noite de ontem não foi um sonho.
-Parece que não.
-Ainda bem que não foi! Ficas cá até quando?
-Domingo
-Podemos voltar a encontrarmo-nos hoje?
-Para?
-Falarmos, gostei imenso de falar contigo.
-Como queiras.
-No mesmo sítio, à mesma hora.
- Ok, mas levo a minha prima e a minha irmã, se não te importares.
-Importar…
-Têm mesmo de ir se não os meus tios, provavelmente não me deixam ir.
-Calma, não disse que não queria. Por mim tudo bem, até logo.
-Até logo Gaspar.
A voz dele parecia uma melodia perfeita, como aquelas que por mais vezes que sejam ouvidas, não cansam. Melodia lenta e suave que era capaz de ocupar a minha mente, horas a fio. Tropecei sobre as malas e caí na cama. Fiquei lá, cerca de dois minutos a pensar na melhor maneira de explicar esta situação toda à Marta. O mais certo seria ela dizer-me que não queria vir. Mas surpreendeu-me.
-Marta? Tenho de te pedir um favor…
-Gaspar?
-Quem?
-Gaspar, ele ligou-me a contar tudo priminha. É dos meus melhores amigos e não aguenta esconder-me o que quer que seja. Mal estiveram juntos e tu adormeceste, ligou-me completamente eufórico.
- A sério? Eu também só te queria pedir que viesses comigo hoje…
-Também já me disse. Não te preocupes.
-Mas..
-Mas o quê Rita? Ele é das pessoas mais extraordinárias que conheço. Não, não te vais magoar.
-Ninguém disse que me queria envolver…
-Não? Pelo que ele me disse…
-O que é que ele te disse?
-Lamechices…
-Do tipo?
-O olhar, hum… tu sabes
- O olhar?
- O olhar dela é tão intenso, nunca vi nada assim. Foi isto.
-Ele disse-te isto? Não entendo porquê…
-Já viste bem os teus olhos? Ah e só digo que se vão envolver porque, ele não diz isto sobre qualquer uma. Conheço-o bem.
Não tive coragem de dizer mais nada, baixei o olhar e senti os meus olhos a cintilar. Aquele rapaz tinha mesmo algo especial.
Durante a tarde eu, a Carol e a Marta fomos ao rio. Estávamos fartas de estar em casa e não hesitámos. 

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