alicerce

domingo, 27 de março de 2011

Entre quatro paredes (cap3- O sonho)

-É  sim. E tu, como é que te chamas mesmo?
- Rita.
- Hum….
Ele sentou-se a meu lado e ficamos ali os dois, a observar as constelações e a ouvir o cântico das corujas. Conseguia ouvir a música no quarto da Marta e os meus tios a mandar diminuir o som da aparelhagem, quando, o Gaspar me toca no rosto e o move na sua direcção. Não sabia o que fazer e ficamos assim, durante segundos, olhos nos olhos. E na verdade não me importei nada de ficar assim, sobre aquela paisagem.  
- Rita? A tua irmã está a chamar-te. -  interrompeu o tio António.
- Já vou, já vou. – disse eu ainda olhando Gaspar nos olhos.
O Gaspar não resistiu e soltou uma gargalhada. Talvez ele se risse pelo facto de termos parado no tempo, como se estivéssemos sós. Ou poderia também ter-se rido por pensar que tenho cara de palhaço? Não sei o que pensar, sinceramente.
- Bem – disse levantando-me – tenho de ir – e viro as costas, preparando-me para ir para casa.
Ele agarra-me pelo braço e diz:
- Espera –  tirou um papel do bolço e apontou lá, alguma coisa – leva-o e depois diz-me alguma coisa, por favor.
Peguei no papel e sorri, como forma de resposta. É inacreditável, mas ficava sem jeito quando estava ao lado dele. Há algo nele que não bate certo. Mas e os olhos dele? Aquele verde tão vivo, são lindos.
Caminhei em direcção à entrada e quando cheguei, hesitei. Coloquei levemente as mãos sobre o puxador e entrei. Lá dentro, estavam os quatro no sofá, a ver televisão. Sentei-me ao lado da Carolina. Os meus tios, em simultâneo sorriram e a minha prima, não se moveu um centímetro que seja. Talvez estivesse tão concentrada que não reparasse ou talvez mesmo não quisesse olhar-me. A Carolina deitou a sua cabeça nas minhas pernas e decidi, também, ver televisão.
Onde é que eu estou? Carolina? Carolina? Irmããããã!
As luzes da sala estavam completamente apagadas e a única coisa que via, era a luz que atravessava a clarabóia. A porta estava trancada e a única coisa que conseguia ouvir era o choro constante da minha irmã. Onde é que ela está? Quem está a fazer-lhe mal?
Balbuciei e quase parti a porta até que, oiço alguém a colocar as chaves dentro da porta. Afastei-me e apercebi-me que para lá da porta não havia ninguém. Carolina? Lá estava ela, sobre o berço.
Senti um toque sobre o ombro e ao reagir ao impacto, vejo o Gaspar. Ele estava com uma arma na mão e a única reacção que tive foi de segurar na minha irmã e pô-la atrás de mim.
- Minha princesinha, não quiseste ficar comigo? Não? Sabes o que vai acontecer…
Aquela voz soou-me como se fosse a primeira vez que o estivesse a ouvir. Era tão sarcástica. Ele não pode fazer isto!
- Calma Rita, foi só um pesadelo.
-Carolina? Carolina? – levantei-me e apercebi-me que ela estava mesmo ali, diante as minhas pernas, intacta.
Felizmente foi só um pesadelo. O Gaspar, afinal que pessoa é ele?
- Estás muito tensa, bebe este copo de água, meu amor. – dizia a tia Cristina.
Já estava de dia e quase não me conseguia levantar com as dores de costas. Fui até ao quarto e ao tirar as calças, apercebi-me de que algo estava nos bolsos. O bilhete do Gaspar, pois. 

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