alicerce

terça-feira, 29 de março de 2011

Entre quatro paredes (cap5- A chuva)

Durante o caminho, o tempo foi mudando. O ar foi-se tornando gélido e o sol já não sorria com tanta intensidade. As nuvens pareciam que se iam juntando aos poucos, até que taparam por completo o sol.
Finalmente tínhamos chegado. Apesar do frio que estava, a minha irmã insistia que tinha de correr e libertar toda aquela energia dentro de si. A Marta preferiu ficar deitada na relva, talvez à espera que chovesse, a contemplar as suas melodias. Decidi ir dar uma volta, já que estar ali ou noutro lugar qualquer não lhes fazia diferença.
Os pássaros voavam todos em direcção sul, as árvores tremiam instantaneamente às brisas que percorriam o local, o rio estava límpido e não havia nenhuma ave que se arriscasse a nadar contra a corrente. Lá ao fundo era visível um bar, talvez um bom local onde me pudesse aquecer.
De repente o ambiente torna-se escuro, uma tempestade enorme avistava-se. As minhas amigas nuvens não conseguiram suportar por mais tempo aquele peso que, à primeira vista, parece mais leve do que uma pena. As minhas pernas berravam de tanta dor e o meu cabelo chorava destroçado. De súbito aparece alguém atrás de mim que me abriga e me rodeia o corpo. O gesto foi impossível de controlar, olhei para trás e sorri. Era o Gaspar.
-Andas a seguir-me?
- Não sou nenhum perseguidor Rita… Mas a verdade é que te vi lá à trás e pensei que daqui a uns instantes precisasses de mim… precisaste mesmo.
- Não, não preciso. -  desvio-me para a chuva – estou muito bem aqui.
-Não sejas trenga.
Quando acaba a frase, abraça-me e ficamos os dois ali, parados no tempo, olhos nos olhos. Enquanto tudo à nossa volta permanecia, intacto.
Sinto um calor a percorrer-me o corpo, talvez sejam os nervos. Parecia que ele estava cada vez mais próximo de mim, ou talvez não estivesse mesmo. Mas quando dei por nós, estávamos quase a beijar-nos... até que alguém me liga.
- Desculpa, tenho mesmo que atender. – proferi.
Gaspar sorri como forma de resposta.
-Rita? Onde é que estás?
-À beira do café e vocês?
-Já estamos em casa, pensamos que tinhas vindo para cá.
-Sozinha? Não, abriguei-me aqui.
O Gaspar tenta fazia gestos, que não resultaram em nada, pois não percebia o que me queria transmitir.
-Não te preocupes, Marta, estou aí em quinze minutos.
-Até já amor.
É inacreditável mas ainda estávamos abraçados e a chuva parecia que não queria parar. O meu cabelo estava completamente molhado e a minha pele, naturalmente, molhada.
-Vou levar-te a casa. – inquiriu o Gaspar.
-Nem pensar – larguei-o – está a chover muito.
-Por isso mesmo, levo-te de carro, é rápido, não te preocupes. Prometo não te fazer mal.
-Andas com umas piadas engraçadas, andas…
-Então vamos? O tempo não pára.
Ele insistia que o meu ombro servia de abrigo para o dele e eu, deixava-me levar e sobrepunha a minha mão, rodeando a anca dele. 

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