alicerce

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

I asked love and you gave me melody




Relembro todos estes anos sem ti, anos perdidos. Acho que merecia um bocado de consideração já que sou tudo para ti, como me dizes com o tom de voz mais acolhedor e reconfortante que tive o privilégio de escutar. Desde pequena me habituei a que a demonstração do teu amor por mim se resumisse a palavras sem folgo, palavras das quais não retiro nada, a não ser meros versos que façam vibrar a melodia que tu acolhes com prazer. Já eu rejeito-me a escutar e decorar as pautas dessa melodia, rejeito-me a oscilar enquanto te debruças sobre mim vagarosamente dizendo-me que sou tua menina. E permaneço em mim, longe dos teus encantos melódicos, concentrando-me apenas nas pausas dessas notas musicais, de onde resultam os actos fracos e mirabolantes de um homem que está perdido no mundo.
Acho-te piada, acho-te piada a ti e acho-me com piada também. Por ambos demonstrarmos tal desinteresse em mostrar o que sentimos um pelo outro. Sei bem que esse sentimento é recíproco e essa certeza já ninguém ma pode retirar. Mas então surgem as dúvidas, dúvidas de relance que à distância são indetectáveis, dúvidas de gestos que estão por explicar e dúvidas que ainda estão para surgir neste nosso confronto amigável completamente imundo de pautas sarcásticas. E para quê inundá-las de tal sujidade permanente? E para quê tentar esconder gestos que estão à vista dos cegos com vontade de ver? Para nada. Não há objecção viável, os teus actos são completamente indignos.
Eu ainda tento escutar a melodia e responder que sim, oscilando com as cordas esgotadas de tal som repetitivo. Afinal a única coisa que eu te pedia nem era uma melodia composta por pautas sarcásticas que ficassem no ouvido, a única melodia que eu te pedi foi a melodia do teu amor por mim, melodia que não fica no ouvido, melodia que fica no coração. Melodia que é composta em pautas reluzentes, melodia que não se deixa envolver em vocábulos estonteantes e salientes, melodia que já está instruída desde o dia em que nasci e que tens dificuldade em tocar. Não é pedir muito que mostres um pouco desse teu talento, afinal, tu já sabes a música à treze anos e nunca a exibiste? Apenas te peço que largues essa música entusiasmante e sarcástica. Canta-me aquela que só tu sabes cantar, canta-me ao ouvido, como se fosse um segredo, eu prometo não vacilar.
Quando eu era pequenina pedi-te um rádio da barbie para cantar, eu esperava lá encontrar o segredo da canção, mas eu não o encontrei e foi então que entendi que não há sigilo para a melodia, desde que ela seja cantada com alma e coração, coisa que tu não soubeste fazer. Estou fatigada de ofuscar a realidade dizendo-te que sim com as cordas já cansadas da melodia e eu hoje vou-te dizer exibindo pela primeira vez, com as cordas reluzentes e serenas que tudo o que me tens dado não é nada do que eu queria. Eu pedi-te amor e deste-me melodia.

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